Um resíduo urbano de 7,60x10m, com orientação norte-sul e com um muro de em media 6 metros de altura, dá ao terreno uma configuração de uma espécie de fossa, com pouca luz e ventilação, devido às sombras das construções vizinhas. Recebe um programa habitacional multifuncional, com grande intensidade de atividades sociais- reuniões, cinema, comida ao ar livre, piscina.
Propõe-se um volume de tijolos, separado dos limites do terreno; a oeste, protegendo da incidência solar, uma placa de concreto que estrutura os serviços (escadas e banheiros); a leste, um vazio para capturar todo o vento do noroeste, delimitado por uma pele verde, que atua como reguladora da temperatura, luz e sombras, contendo pátios e um terraço como expansão da área social, no térreo. A organização espacial do volume é estruturada segundo o grau de luminosidade e a relação que cada espaço pede; os menos luminosos e mais resguardados ficam no térreo, e à medida que se eleva, começam a aparecer os espaços com maior exigência de luz e conexão com o interior.
Espacialmente, o volume recebe expansões ao exterior conforme se eleva, expansões organizadas helicoidalmente, em níveis, e terminando no terraço, onde se muda a escala, já que o espaço introvertido das zonas mais baixas transforma-se no grande pátio da casa, apropriando-se de toda a paisagem vizinha. O volume enfatiza sua condição de peça única ao não ser tratado com a tradicional perfuração loosiana: as aberturas são concebidas como rasgos, não referenciadas aos níveis interiores, mas sim às vistas e às entradas de ar e luz.
A habitação está materializada como uma série de peles, a partir de elementos construtivos recorrentes no Paraguai; o mais comum dos tijolos, concreto, madeira nos pisos exteriores e o verde domesticado, traduzido em uma pérgula de pé direito duplo e revestimentos vegetais sobre os muros. A pele cerâmica é estruturada a partir da pele dupla de tijolos –que em seu intermédio abriga a estrutura, as instalações, o isolamento acústico e térmico- conseguindo, ainda, nesse mesmo gesto, a expressão crua do tijolo comum, onde os defeitos dos tijolos são convertidos em qualidade, adquirindo, diante dos efeitos da luz, uma imagem quase de um tecido.
Com os tijolos conformados com junta seca, tenta-se evitar a condensação do ar interior, já que estas funcionam como poros, buscando que o edifício respire por essa pele, ação potencializada pela descontinuidade produzida pelos interstícios entre os tijolos, evitando a condução de calor; a pele, porém, não recebe proteção contra as intempéries climáticas, possibilitando que esta receba marcas em sua textura e coloração, conforme o grau de exposição de cada superfície, revelando a passagem do tempo.
Informação Complementar:
- Estudos do solo: Eng. Carlos Bellassai
- Cálculo Estrutural: Eng. Carlos Escobar – Arq. Jaime Olmedo
- Construção: Estudio Elgue & asociados
- Área: 76 m2 de terreno, 108 m2 de área coberta, 48 m2 área aberta (terraços)